domingo, 8 de junho de 2014

Análise: Dead Embryonic Cells (Sepultura)




Dead Embryonic Cells
Sepultura – Album: Arise (1991)

Land of anger
I didn't ask to be born
Sadness, sorrow
Everything so alone

Laboratory sickness
Infects humanity
No hope for cure
Die by technology

A world full of shit coming down
Tribal violence everywhere
Life in the age of terrorism
We spit in your other face

War of races
World without intelligence
A place consumed by time
End of it all

We're born!
With pain!
No more!
We're Dead Embryonic cells

Corrosion inside - we feel
Condemned future - we see
Empitness calls - we hear
Final premonition - the truth

Land of anger
I didn't ask to be born
Sadness, sorrow
Everything so alone

Laboratory sickness
Infects humanity
No hope for cure
Die technology

We're born with pain
Suffer remains
we're born
With pain sufffer
We're dead
Células Embrionárias Mortas


Terra do ódio
Eu não pedi pra nascer
Tristeza, sofrimento
Tudo é tão solitário

Doenças de laboratório
Infectam a humanidade
Sem esperança para a cura
Morrer pela tecnologia

Um mundo cheio de merda desabando
Violência tribal em todo lugar
A vida na era do terrorismo
Nós cuspimos em sua outra face.

Guerra das raças
Mundo sem inteligência
Um lugar consumido pelo tempo
Fim de Tudo

Nós nascemos!
Com dor!
Nunca mais!
Somos celulas embrionárias mortas

Corrosão interna - nós sentimos
Futuro condenado - nós vemos
Vazio chama - nós ouvimos
Premonição final - a verdade

Terra do ódio
Eu não pedi pra nascer
Tristeza, sofrimento
Tudo tão sozinho

Doenças de laboratório
Infectam a humanidade
Sem esperança para a cura
Morto pela tecnologia

Nós nascemos com dor
Lembranças sofridas
Nós nascemos
com dor e sofrimento
Estamos mortos.

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Análise:

Se pudermos utilizar apenas uma palavra para descrever a canção “Dead Embryonic Cells” dos brasileiros do Sepultura, com certeza seria: Perturbadora.

O início com barulhos “estranhos” antes da entrada dos instrumentos, já deixa o ouvinte tenso e apreensivo. O Sepultura faz uso do mesmo recurso da faixa antecessora do álbum (a já analisada e igualmente icônica, “Arise”). O ouvinte recebe uma massa sonora quando a introdução termina.

Max Cavalera vocifera as primeiras duas palavras que dão o clima da música: “Land of anger”. Podemos ver um ser humano sem qualquer esperança diante de um mundo, que se intensifica na sequencia, onde esse mesmo ser humano diz “I didin’t ask to be Born”, e se amplifica pelo uso das palavras “tristeza, sofrimento e solidão” nas duas frases seguintes. Estes sentimentos se tornaram muito comuns no fim dos anos 80 e início dos anos 90 do século XX. O mundo pós Guerra Fria é um mundo instável, e com mudanças violentas. Mudanças, essas, com destino obscuro. (HOBSBAWN, 1995, p.446)

O eu poético continua analisando o mundo, e por toda a segunda estrofe fala sobre as doenças (supostamente) criadas por grandes laboratórios para infectar a humanidade. Esta ação, como alguns grupos sustentam, seria uma forma dos grandes conglomerados farmacêuticos manterem os seus lucros astronômicos, a custa da histeria da população. (obs: vale frisar que não há sustentação dessas teses em estudos, sendo essa uma teoria mais ligada ao que chamamos de “mitos urbanos”)

A representação do mundo caótico daqueles anos continua na terceira estrofe, relatando eventos que eram rotineiramente manchetes dos jornais. A frase “Tribal violence everywhere” fala não só de conflitos armados na África e Ásia, mas também, das próprias sociedades urbanas e suas tribos, como Skin Heads, Punks ou Radicais da Esquerda. (HOBSBAWN, 1995, p.393-400). A frase “Life in the age of terrorism” fala sobre os noticiários mundo afora, repletos de informações sobre atentados e destruição causados por grupos radicais. A privatização da violência, com a venda de armas desenfreadas por corporações e governos para mãos de não militares, tornou o mundo extremamente perigoso. E governos e organismos internacionais não estavam prontos para bater de frente com este problema. Citemos as crises no Oriente Médio, nos Balcãs, Argélia e mesmo dentro dos EUA, com a ascensão dos movimentos de intolerância étnica e racial. (HOBSBAWN, 1995, p.540). Há uma citação à intolerância desse mundo, quando se faz a analogia à frase atribuída a Jesus: “We spit in your other face”. Ou seja, ao invés de dar a outra face para quem agride, a letra diz que estamos cuspindo em sinal de retaliação. 

A quarta estrofe fala cita “Guerra de Raças”, citando novamente de conflitos por razões étnicas (como a desintegração da Iugoslávia), ou político/religiosas (como na Palestina ou Irlanda), ou por poder econômico (como no caso da Guerra do Golfo). E temos uma observação pessoal do Eu Poético, quando diz “World without intelligence”, entendendo que o ser humano se torna irracional quando toma partido de idealismos. A desesperança volta a aparecer forte no final da estrofe, quando diz que é o “fim de tudo”.

O refrão deixa clara a mensagem da letra “We're born / With pain / No more / We're dead embryonic cells” de uma geração que já nasceu condenada pelos erros das gerações passadas. Nascem sem esperança alguma, dentro de um mundo condenado ao caos. Conforme a figura de linguagem apresentada, a humanidade já nasce morta, condenada ao fim prematuro.

Essa tristeza e desespero ficam mais claros ainda na estrofe logo após o refrão, com um andamento mais rápido, as palavras descrevem os sentimentos de uma grande parte da população mundial: “Corrosion inside - we feel / Condemned future - we see / Empitness calls - we hear”. Assolados pela fome, pela miséria, pela guerra, pela violência, como acreditar num mundo melhor? Assim, não há o que esperar da humanidade.

O solo de Andreas Kisser encaminha para uma mudança abrupta no andamento da canção, quando a melodia assume um ritmo mais cadenciado, sendo um dos riffs de guitarra mais marcantes da carreira do Sepultura.

A canção retorma o andamento inicial para repetição da primeira e segunda estrofes, e o refrão alterado para finalizar, concluindo que com dor e sofrimento a humanidade nasce (metaforicamente e naturalmente) e no final estaremos todos mortos. A voz gutural de Max Cavalera dá à letra o terror e desespero que ela deseja passar.


“Dead Embryonic Cells” é um dos maiores clássicos da história do Sepultura, e a mensagem contida nela é o retrato da falta de esperança, num mundo pós Guerra Fria, onde todas as certezas (sejam elas boas ou ruins) estavam destruídas, lançando a humanidade num novo milênio obscuro, caótico e violento.

  
Referencias:

CHRISTIE, Ian. Heavy Metal: a história completa. São Paulo: Editora Arx, 2010.

HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991). São Paulo; Companhia das Letras, 1995.
JANOTTI JÚNIOR, Jeder. Heavy Metal com Dendê: rock pesado e mídia em tempos de globalização. Rio de Janeiro: E-papers, 2004

NAPOLITANO, Marcos. A História depois do papel. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes Históricas. 2ª Edição, São Paulo: Contexto, 2010.
______. História e Música: História cultural da música popular. 3ª Ed. Belo
Horizonte: Editora Autêntica, 2005.