segunda-feira, 3 de março de 2014

Análise: Dawn Patrol (Megadeth)






Dawn Patrol
Megadeth – Album: Rust in Peace (1990)

Thermal count is rising
In perpetual writhing
The primordial ooze
And the sanity they lose

Awakened in the morning
To more air pollution warnings
Still we sleepwalk off to work
While our nervous systems jerk

Pretending not to notice
How history had forebode us
With the greenhouse in effect
Our environment was wrecked

Now I can only laugh
As I read our epitaph
We end our lives as moles
In the dark of dawn patrol

(Tradução) Patrulha do Amanhecer

Os termômetros estão subindo
Numa escala contínua
A lama primordial
E a sanidade que eles perdem

Acordados de manhã
Para mais alertas de poluição do ar
Ainda solonentos vamos ao trabalho
Enquanto nosso sistema nervoso estremece

Fingindo não notar
Como a história nos tem profetizado
Com a estufa em consequência
Nosso meio ambiente foi devastado

Agora eu só posso rir
Enquanto eu leio nosso epitáfio
Terminamos nossas vidas como topeiras.
Na escuridão da patrulha do amanhecer

________________________________________
Análise:

Iniciaremos com alguns esclarecimentos: Primeiro, que esta canção figura dentro do álbum como uma espécie de prelúdio para a canção “Rust In Peace... Polaris”; Segundo, que de acordo com David Ellefson (que assina sozinho a letra e música, algo único para o Megadeth), ela fala sobre o mundo após uma devastação, que provavelmente seria por uma guerra nuclear, mas isso não é explicito.

Importante definirmos que o ouvinte “ouve” a canção, nem sempre com os mesmos ouvidos do seu compositor:
(...) o universo de recepção dos cantores, musicistas e compositores e o universo de recepção da audiência mais ampla (os chamados “ouvintes comuns”) não podem ser vistos de maneira dicotômica nem generalizante, mesmo dentro do mesmo momento histórico, cuja configuração é sempre complexa e nunca completamente determinada por forças estruturais que estariam por trás dos fatos. (NAPOLITANO, 2005, P.83)

Nem sempre a intenção por trás de uma composição será captada da mesma maneira pela audiência, bem como o sentido original de uma certa composição se altera com o passar dos anos, visto à pluralidade de interpretações que este tipo de material está sujeito.

A canção tem uma construção melodia muito simples, com uma linha de baixo e bateria cadenciada, repetitiva, quase hipnótica durante os 1:50 minutos da música, aliada a uma vocalização sinistra, dão um clima de suspense e certo terror à faixa.

O texto está escrito em forma de uma parábola fantasiosa, que leva o ouvinte para um tempo e espaço deslocado, mas que ao mesmo tempo pode ser aplicado ao mundo imediato. A primeira estrofe traz os versos “Thermal count is rising / In perpetual writhing”, que nos remete automaticamente ao problema do aquecimento global.

A segunda estrofe continua com o tom soturno “Awakened in the morning / To more air pollution warnings”, e traz um choque entre uma fantasia criada pela canção, mas o cotidiano, onde todos os dias o homem comum vê nos noticiários (principalmente os matutinos) sobre a qualidade do ar nas cidades (algo muito comum ainda hoje). As linhas que seguem, “Still we sleepwalk off to work / While our nervous systems jerk”, dando indícios de como vive essa sociedade, que acorda muito cedo (ainda sonolentos) para irem ao trabalho, enquanto a poluição causa danos à saúde. Nota especial para a forma que o narrador repete a palavra “nervous”, como se estivesse realmente com um “tique nervoso”.

Tal como as análises do Kreator sobre o assunto, a canção do Megadeth também menciona o passado que se repete quando cita “Pretending not to notice / How history had forebode us”, mostrando que o homem parece incapaz de aprender com os próprios erros, e pior, ainda finge não notar o que está acontecendo. E a estrofe termina de maneira categórica, falando “With the greenhouse in effect / Our environment was wrecked”.

A última estrofe faz um resumo perfeito, tanto da ideia quanto do estilo da composição. O sarcasmo contido em “Now I can only laugh / As I read our epitaph”, onde o narrador dá até uma “risadinha” ao declamar o primeiro verso. E a canção termina falando sobre viver a vida como topeiras, ou seja, viver no subsolo, visto que a superfície não será mais segura para a humanidade, e saindo ainda sob a escuridão, o que provavelmente significa fugir dos efeitos nocivos da radiação solar.

Uma canção muito icônica, que traz um pouco de ficção para tratar de temas reais, com uma letra inteligente e de humor cítrico, faz o ouvinte refletir sobre viver num mundo onde o meio ambiente foi destruído pela própria ação humana.


Referências bibliográficas

CHRISTIE, Ian. Heavy Metal: a história completa. São Paulo: Editora Arx, 2010.

HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991). São Paulo; Companhia das Letras, 1995.

NAPOLITANO, Marcos. A História depois do papel. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes Históricas. 2ª Edição, São Paulo: Contexto, 2010.
______. História e Música: História cultural da música popular. 3ª Ed. Belo
Horizonte: Editora Autêntica, 2005.

<http://www.megadethbrasil.com/materias/materia.php?id=2> acessado em 20 Jun 2011