domingo, 16 de fevereiro de 2014

Análise: When the Sun Burns Red (Kreator)





When the Sun Burns Red
Kreator – Album: Coma of Souls (1990)

Savage heat is searing
Global warming has
begun
Mother Earth is reeling
No protection from the sun
Forest fires are raging
While the rivers turn to ice
Foolish man creating
Mother Nature's cruel demise

Hailstorms, tornadoes
Cold spells, untimely frosts
Heat waves and blizzards
Global death's the cost

Faces the end of time
As we plunge headlong towards the day
Can't deny the signs
When the sun burns red
The earth will turn
From blue to gray

Winter turns to summer
Then the seasons disappear
No one needs a prophet
To explain what's all too clear
Oceans overflowing
Islands drowning everywhere
Leaders wouldn't admit it
Now they're crying in despair

Hailstorms, tornadoes
Cold spells, untimely frosts
Heat waves and blizzards
Global death's the cost

Face the end of time
As we plunge headlong towards the day
Can't deny the signs
When the sun burns red
The earth will turn
From blue to gray

Now rain shall wash away sad remains of man
Cities once so proud will crumble into sand
Buildings all collapse when all is done and said
The guilty ones will die with the innocent...
When the sun burns red


Quando o Sol queima vermelho (tradução)

O calor selvagem é escaldante
O aquecimento global já começou
A Mãe Terra está cambaleando
Sem proteção contra o sol
Os incêndios florestais estão ferozes
Enquanto os rios virar gelo    
Homem insensato criando
morte cruel da Mãe Natureza

Granizo, tornados
Frentes frias, geadas prematuras
As ondas de calor e tempestades de neve
Morte Global é o custo


Faces do fim dos tempos
Como mergulhamos de cabeça para o dia
Não se pode negar os sinais
Quando o sol queima vermelho
A Terra vai transformar
de azul para cinza

Inverno se transforma em verão
Em seguida, as estações desaparecer
Ninguém precisa de um profeta
Para explicar o que está tudo tão claro
Oceanos transbordando
Ilhas submergindo por toda parte
Líderes não admitiriam isso
Agora eles estão chorando em desespero

Granizo, tornados
Frentes frias, geadas prematuras
As ondas de calor e tempestades de neve
morte Global é o custo

Faces do fim dos tempos
Como mergulhamos de cabeça para o dia
Não se pode negar os sinais
Quando o sol queima vermelho
A Terra vai transformar
de azul para cinza

Agora a chuva limpará os tristes restos do homem
Cidades outrora tão orgulhosas desmoronarão na areia
Todos os edifícios caem quando tudo é feito e dito
Os culpados vão morrer com os inocentes ...
Quando o sol queima vermelho
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Análise:

A questão ambiental vinha tornando-se bandeira da contracultura desde o fim dos anos 60. E só analisarmos os movimentos hippies, por exemplo. Contudo, esses movimentos, principalmente no âmbito musical, ainda estavam permeados de temas etéreos, por influência dessa própria cultura.

A partir dos anos 80, temos uma mudança na abordagem dos problemas ambientais, com a proliferação dos grupos de defesa e leis mais duras acerca da degradação da natureza, bem como a mundialização dessa discussão, pois com o fim do bloco soviético verificou-se que a poluição, escassez de recursos naturais e ameaça à vida do homem, eram um problema que transcendia as ideologias político/econômicas e culturais.

Dentro desse contexto, a canção “When Sun Burns Red” dos alemães do Kreator alerta para um problema central dentro do movimento ambientalista: o aquecimento global.

Expressões como Efeito Estufa, Camada de Ozônio, CFC (clorofluorcarbono) tornaram-se corriqueiras desde os telejornais até as cartilhas escolares. Rapidamente, o mundo inteiro tomava ciência de estudos que apontavam para um aumento exponencial da temperatura terrestre, o que poderia acarretar à existência humana.

Antes de continuarmos, vale ressaltar que não tratamos aqui de uma discussão sobre o tema Aquecimento Global, e sim, sobre o impacto dele sobre a cultura e o imaginário da época analisada.
A partir de 1990, não houve  assunto que frequentasse com mais assiduidade as páginas de ciência da grande impressa, tanto aqui (Brasil) como no restante do mundo, que o aquecimento global. (...) Há inúmeras  indicações  de que esse aumento seja devido às atividades humanas, principalmente  aquelas que envolvem a queima de petróleo e carvão, emitindo gases conhecidos como efeito estufa. No entanto, o sistema climático é muito complexo, podendo haver outras causas para as variações de temperatura observadas, de modo que a relação direta de causa do efeito estufa na atmosfera do século XX e o aumento da temperatura nesse mesmo período continua sendo objeto de estudo e debate entre os cientistas. (OLIVEIRA, 2008)

Dito isso, vejamos o discurso contido na canção, que enfatiza a preocupação do homem comum, bombardeado com notícias catastróficas todos os dias sobre os efeitos do aquecimento global durante o início dos anos 90.

As duas primeiras linhas já dizem diretamente sobre o tema, quando fala do calor escaldante e que o “aquecimento global já chegou”. Essa visão absolutamente fatalista, estava apoiada em ideias amplamente baseadas no primeiro relatório da IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) de 1988, o clima do planeta subia de maneira acelerada, o que causaria efeitos desastrosos, como enchentes, secas, aumento do câncer de pele, calor intenso em partes do globo e frio intenso em outras.

A letra continua falando sobre detalhadamente sobre as consequências do efeito estufa, tais como a destruição da camada de ozônio quando diz "Mother Earth is reeling / No protection from the sun". E aqui temos mais uma característica das músicas do Kreator, que é mistura entre o real e o sobrenatural. Quando se refere à “Mãe Terra”, remete a ideia de povos que cultuam a Terra como uma divindade (inclusive, remetendo aos próprios hippies dos anos 60).

O bridge traz uma sequencia de desastres ambientais, como resultado do aquecimento global, e nos leva ao refrão fatalista, iniciando com a frase "Faces the end of time", mostrando que o ser humano estava encarando um período de destruição. O refrão termina ratificando o tom fatalista, dizendo que o planeta vai queimar até virar cinzas: "When the sun burns red / The earth will turn / From blue to gray"

Os efeitos da alteração climática continuam enumerados na letra, e de tão claros, não precisam de “profetas” para alertar o que está por vir: "No one needs a prophet To explain what's all too clear". A segunda estrofe termina, como característica do Kreator, com uma crítica à inércia dos governantes quando diz "Leaders wouldn't admit it / Now they're crying in despair"

A última estrofe conclui mostrando que o planeta será destruído, e a raça humana terá desaparecido, enquanto suas cidades e monumentos vão se degradar: "Now rain shall wash away sad remains of man / Cities once so proud will crumble into sand / Buildings all collapse when all is done and said". E a letra finaliza com mais uma crítica fatalista, como todo o tom da canção, quando diz "The guilty ones will die with the innocent...When the sun burns red", ou seja, no fim de tudo, os que causaram, os que deixaram e os que não tiveram qualquer ação sobre o aquecimento global, vão se sujeitar à destruição da humanidade da mesma forma.

A parte melódica é muito bem trabalhada para dar à letra a dimensão fatalista. A começar pelo início acústico, com uma melodia inquietante, que deixa o ouvinte sob tensão, numa espera angustiante sobre o que vai acontecer. E então entram as guitarras elétricas com seus riffs frenéticos, juntamente com a bateria que parece uma avalanche sonora. E de repente, um grito totalmente raivoso se rompe entre os instrumentos, dando um ar desesperador à canção.

A música segue esse andamento acelerado até a parte dos solos de guitarra, quando o andamento entra num ritmo mais cadenciado para cantar a última estrofe, retornando ao ritmo frenético para o encerramento da canção.

Como dito logo no início, a canção nos serve como um registro para analisar preocupações da época, e não para discutir se as análises acerca do aquecimento global estão certas ou erradas. O mais valioso no discurso em “When the Sun Burns Red” é a forma como o Kreator absorveu toda uma preocupação acadêmica e cotidiana da época, e como isso influenciou as pessoas a partir de então.

Ainda em 2014 estamos longe de chegar a uma conclusão sobre as causas do aquecimento global, pois existem teorias variadas todo o tipo de justificativa (fatalistas, céticos, ambientalistas, industrialistas, direitistas, esquerdistas, e por ai vai). O que não se nega, evidentemente, é que o ser humano é o único que pode fazer algo a respeito, seja para evitar, seja para contornar a situação, criada por ele ou não.


Referencias:

CHRISTIE, Ian. Heavy Metal: a história completa. São Paulo: Editora Arx, 2010.

HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991). São Paulo; Companhia das Letras, 1995.

MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. A Reunificação da Alemanha: do ideal socialista ao socialismo real. 3ª edição, São Paulo: Editora Unesp; 2009.

NAPOLITANO, Marcos. A História depois do papel. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes Históricas. 2ª Edição, São Paulo: Contexto, 2010.
______. História e Música: História cultural da música popular. 3ª Ed. Belo
Horizonte: Editora Autêntica, 2005.

OLIVEIRA, Simone Maria de Barros. Base Científica para compreensão do Aquecimento Global. in VEIGA, Jose Eli da. (org) Aquecimento Global. São Paulo: Editora Senac; 2009 .

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