Iniciaremos esse tópico analisando a canção "Holy Wars" do Megadeth.
Holy
Wars...
Megadeth
– Álbum: Rust in Peace (1990)
Brother
will kill brother
Spilling
blood across the land
Killing
for religion
Something
I don't understand
Fools
like me, who cross the sea
And
come to foreign lands
Ask
the sheep, for their beliefs
Do
you kill on God's command?
A
country that's divided
Surely
will not stand
My
past erased, no more disgrace
No
foolish naive stand
The
end is near, it's crystal clear
Part
of the master plan
Don't
look now to Israel
It
might be your homelands
Holy
Wars!
Upon
my podium, as the know it all scholar
Down
in my seat of judgement
Gavel's
bang, uphold the law
Up
on my soapbox, a leader
Out
to change the world
Down
in my pulpit as the holier
Than-thou-could-be-messenger of God
(Tradução) Guerras Santas...
Irmão
matará irmão
Derramando
sangue pela terra
Matando
em nome da religião
Algo
que eu não entendo
Tolos
como eu, que cruzam o mar
E
chegam á terras estrangeiras
Pergunte
ao rebanho, por suas crenças
Vocês
matam em nome de Deus?
Um
país que é dividido
Certamente
não resistirá
Meu
passado se apagou, chega de desgraça
Não
resta nenhum tolo
O
fim está próximo, é evidente
Faz
parte do plano mestre
Não
olhe agora para Israel
Ela
poderia ser sua terra natal
Guerras
Santas!
Sobre
o meu palanque, enquanto o Sábio estadista
Senta
no banco do meu julgamento
A
batida do martelo, apóia a lei
Em
minha saboneteira, um líder
Determinado
a mudar o mundo
Aqui
em meu púlpito enquanto uma pessoa
Mais santa que você, pode ser o mensageiro de Deus
________________________________________
Análise:
Os conflitos e guerras são movidos por
diversos motivos, mas um em especial foi amplamente abordado pelas bandas de
Thrash: a guerra religiosa. A região do Oriente Médio, a dissolução da
Ioguslávia, e o conflito entre católicos e protestantes na Irlanda são exemplos.
É sob este prisma que o Megadeth compõe “Holy Wars”, certamente um clássico
definitivo da banda, e também da história do Thrash Metal.
Em
tempo, a canção chama-se “Holy Wars... the punishment due”, e na verdade
são duas músicas diferentes que compartilham a mesma melodia. mas o que
interessa para a análise é a primeira parte. A segunda parte, segundo Dave
Mustaine, fala sobre o herói dos quadrinhos “The Punisher” (o Justiceiro).
Utilizando citações do autor da canção, a
música foi criada primeiramente devido ao conflito entre católicos e
protestantes na Irlanda. Dave Mustaine certa vez em turnê por aquele pais, viu que
havia material da banda vendido sem licença e ouviu do vendedor que era para
“causa” do IRA, e segui-se uma pequena síntese dos conflitos de católicos contra
protestantes. O próprio Dave Mustaine tem ascendência irlandesa, e acabou sendo
banido da Irlanda por uma década por uma confusão causada em um show em 1988,
quando disse que não entendia como uma religião poderia criticar a outra. Esse
incidente o teria inspirado a escrever “Holy Wars”.
Junte a isso uma crescente onda de ataques
terroristas no oriente médio, as Guerras entre Irã e Iraque, bem como a
dissolução do bloco soviético que gera um armamento descontrolado dos países fundamentalistas,
ajudaram Mustaine na composição. Citação do próprio autor, diz que não entende
como pessoas como Muamar Khadafi (que foi presidente da Líbia entre setembro de
1969 até ser morto pela revolução em agosto de 2011) ou o Aiatolá Khomeine (Líder
religioso e político do Irã, entre dezembro de 1979 até ser morto pela
revolução em 03 de outubro de 1989) não ligam para seu povo e os jogam numa
suposta guerra por motivos religiosos, quando querem apenas se perpetuar no poder
a qualquer custo.
Logo a primeira estrofe da canção traz toda a
essência da ideia contida nela: “Brother
will kill brother / Spilling blood across the land / Killing for religion / Something
I don't understand”. Segundo o compositor, a letra não fala de nenhum
conflito em especial, mas da inconcebível noção de guerra religiosa, uma vez
que as religiões deveriam trazer paz ao espírito humano, e não fazê-los se
matarem. Esta frase inicial remete ao acontecido com o próprio Mustaine no
episódio da Irlanda em 1988. E continua uma referência pessoal na passagem "Fools like me, who cross the sea / And come
to foreign lands", certamente falando sobre a imigração de sua família
para os EUA, mas ainda assim acabam sendo atingidos pelo conflito religioso de
uma maneira ou de outra. Isso, certamente, se estende a outros imigrantes das
mais diversas etnias.
Nas linhas “A country that's divided /Surely will not stand” podemos visualizar
muito claramente a situação de diversos países envoltos em guerras religiosas,
como os já citados anteriormente. E
embora haja uma referência literal à Israel no trecho “Don't look now to Israel /It might be your homelands”, o contexto
da música dá a entender que está falando sobre o berço de todas as religiões
monoteístas, e que estão constantemente em guerras à séculos.
Essa ideia se mostra correta quando atentamos
que o nome da canção está no plural, pois também são plurais as religiões e
seus conflitos históricos. Há uma crítica muito clara aos governos teocráticos,
quaisquer que sejam, usando a religião para fazer política, evidenciada na
passagem “Down in my pulpit as the holier
/Than-thou-could-be-messenger of God”, pois esses líderes discursam em nome
de Deus, mas governam em proveito próprio.
Analisando os parâmetros melódicos, podemos
dizer, sem medo de errar, que “Holy Wars” figura entre os chamados “hinos” do
Thrash Metal. Os riffs iniciais da canção, onde as guitarras de Dave Mustaine e
Marty Friedman entram limpas e ao mesmo tempo nervosas, se tornaram quase
sinônimo do Metal praticado naqueles anos. Tanto que a introdução da música foi
utilizada pela Rede Globo para as chamadas do Rock in Rio II em 1991, onde se
apresentou o Megadeth.
A velocidade apoteótica é quebrada pela
guitarra acústica, quando a segunda parte, já mais cadenciada, se inicia para
Mustaine declamar a ultima estrofe, como quem realmente faz um discurso.
A massa sonora produzida pela banda, bem como
as quebras de andamento, e os riffs poderosos, aliados a partes melódicas que
levam o ouvinte a experimentar a tensão da guerra, a raiva e o êxtase, tornam
essa canção uma das mais técnicas e representativas do Megadeth.
Um documento que ainda hoje reverbera para a
audiência, tendo visto que os conflitos religiosos, com o acirramento de ânimos
por todos os lados, ainda fazem milhões de vítimas ao redor do planeta.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHRISTIE, Ian. Heavy Metal: a história
completa. São Paulo: Editora Arx, 2010.
HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O Breve
Século XX (1914-1991). São Paulo; Companhia das Letras, 1995.
MEYER, Michael. 1989: o ano que mudou o
mundo: a verdadeira história da queda do Muro de Berlim. Rio de Janeiro:
Editora Zahar, 2009.
NAPOLITANO, Marcos. A História depois do
papel. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes Históricas. 2ª Edição, São
Paulo: Contexto, 2010.
______. História e Música: História cultural
da música popular. 3ª Ed. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2005.
<www.megadethbrasil.com >. Acesso em:
06 jun 2010
Álbum majestroso, análise foda! Como é bom ler algo de quem gosta do ouve!
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